Avenida Faria Lima
O olhar dela fixou-se em mim e eu nem percebi
Até aquela sensação de ser despido
Como um boneco examinado em busca de partes íntimas
Teria suficientes partes íntimas para satisfazer aquela Mulher?
Eu menino voltando do cursinho, ouvindo música de pé ao lado da catraca
O cobrador olhando de soslaio sorria discreto
Ela Mulher de apertadas roupas de ginástica, sentada, sedenta
Os demais passageiros alheios
O calor que me subia do baixo ventre chocava-se na boca do estômago com o frio que descia pela espinha
Respirei fundo
Olhei
Lera que deveria sustentar o olhar por mais tempo que as meninas
Mas ali não havia uma menina
Ri nervoso encabulado e baixei a cabeça enquanto ela descia do ônibus
Arrependido, infantil, invadido por imagens da minha mãe
Vi a Mulher caminhando na calçada
Olhei e agora sustentei e gritei por favor que o ônibus parasse
Pelo amor de Deus, que o ônibus parasse
O cobrador astuto disse que era uma emergência
Os demais passageiros alheios
Corri a calçada em sua direção e a beijei sem intervalo
Entregue à força daquela Mulher que permitiu isso tudo com malícia e bondade
A toquei, apalpei e gozei
Ela sorrindo passou a mão na minha cabeça e foi embora
Eu desorientado olhei para o azul do céu
A conturbada avenida nunca mais foi a mesma
2015